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26/06/2011

Discursos vazios

Há algo nesses dias que me cansa muito. O verbalismo das pessoas. Vejo como que uma hipertrofia fagocitótica essas ideologias vazias, valores vazios, pensamentos vazios, DISCURSOS VAZIOS. As malditas pessoas estão cada vez mais se apoiando em palavras em vez de ações.

É claro o avanço das redes socias pelo mundo. Aqui no Brasil o Orkut está muito em voga, e quando eu tinha o meu perfil nessa rede eu aproveitava para fazer algumas análises. Deveras bizarras as coisas que vi por lá. Pessoas sem personalidade alguma tentando afirmar o pouco que tem na cabeça com comunidades frívolas. Tem gente por lá tentando afirmar sua beleza entrando em comundades como por exemplo: "TODA DANIELLE É LINDA". Comunidades no melhor estilo "SIM, SOU LINDA MESMO". E daí?

Convivia e ainda convivo com muitas pessoas que possuem perfil no Orkut, e participam de comunidades cada vez mais angustiantes. Então vejo muitas pessoas que colocam lá coisas que não correspondem com sua realidade. Já vi sujeitos que são tão imbecis e tão quadrados que entram em comunidades como "FALTA DE CONTEÚDO SÓ ANULA BELEZA", mas está esse indivíduo lá, se comportando como os alvos de crítica da própria comunidades que participa. É como se fosse um Judeu vestindo uma camisa nazista e gritando:
"odeio que guardem rancor!".

E quando eu via alguma comunidade de nome sério e que me sugeria que lá eu teria bons debates, encontraria muitas informações eriqueçedoras. Pronto, entrava eu lá em "Ateus" por exemplo. Os tópicos que realmente te direcionavam para um enriquecimento cultural maior tinham no máximo mais cinco ou seis postagens e logo morriam ali. Tópicos no estilo "você odeia os cristãos?" que deveria ser ignorado, pasmem, ultrapassavam uns duzentos posts. Todos com postagens dizendo que cristãos são idiotas, mereciam morrer, ou apanhar, piadas sem graça alguma. Te pergunto. Isso é ou não é um verbalismo filho de uma puta que vem tomando conta da maioria das pessoas. A pessoa sem preparo cultural alguma para conhecer o que é o ateísmo, o que são suas ideologias podem no orkut se passar como um ateu.

Com o orkut se torna muito fácil você se passar por alguém que não é, que faz coisas que você não faz realmente. Note, lá todos são felizes, ninguém é triste, e as vida deles parecem seguir numa maravilha. Pro inferno com todos eles.

28/04/2011

O Arco-Íris da Gravidade

Thomas Pynchon - Gravity's Rainbow (1973) , capa da 1ª edição.


"Um grito atravessa o céu. Já aconteceu antes, mas nada que se compare com esta vez.

É tarde demais. A Evacuação ainda continua, mas é tudo teatro. Não há luzes dentro dos vagões. Não há luz em lugar nenhum. Acima de sua cabeça elevam-se vigas velhas como uma rainha de aço, e em algum lugar lá no alto vidro que deixaria entrar a luz do dia. Mas é noite. Ele tem medo do modo como o vidro vai cair – em breve –, vai ser um espetáculo: o desabamento de um palácio de cristal. Porém caindo na escuridão total, sem nenhum lampejo de luz, só um grande estrondo invisível.

Sentado dentro do vagão, que tem vários níveis, imerso numa escuridão de veludo, sem nada para fumar, ele sente metal mais perto e mais longe rangendo e estalando, baforadas de vapor escapulindo, uma vibração na carroceria do vagão, uma expectativa, uma inquietação, todos os outros comprimindo-se a sua volta, os fracos, carneiros da segunda leva, todos desprovidos de sorte e tempo: bêbados, velhos ex-combatentes ainda em estado de choque por efeito de tiros de canhões obsoletos há 20 anos, vigaristas com trajes de cidade, vagabundos, mulheres exaustas com mais filhos do que parece possível uma pessoa ter, empilhados junto com as outras coisas a ser conduzidas à salvação. Só os rostos mais próximos são visíveis, e mesmo assim como imagens vagas num visor, rostos esverdeados de VIPS entrevistos por detrás de janelas à prova de bala disparando pela rua…

Começaram a andar. Vão em fila, saindo da estação principal, do centro da cidade, rumo aos bairros mais velhos e desolados. É por aqui que se sai? Rostos voltam-se para as janelas, mas ninguém ousa perguntar, não em voz alta. Chove. Não, não se trata de um desvencilhar, e sim de um emaranhamento – passam por baixo de arcos, entradas secretas de concreto podre que apenas pareciam ser o trevo de um viaduto… uns cavaletes de madeira escurecida deslizam lentamente por cima deles, e já  começaram os cheiros de carvão de um passado distante, cheiros de nafta no inverno, em domingos em que não havia tráfego algum, das formações feito coral, de uma vitalidade misteriosa, em torno das curvas cegas e desvios desertos, um cheiro azedo de vagões ausentes, de ferrugem velha, a crescer naqueles dias cada vez mais vazios, luminosos e profundos, especialmente ao amanhecer, com sombras azuis selando sua passagem, tentando reduzir os acontecimentos ao Zero Absoluto… e quanto mais avançam mais pobre é tudo a sua volta… cidades secretas e decrépitas dos pobres, lugares com nomes que ele nunca ouviu antes… paredes destruídas, cada vez menos telhados, cada vez menos possibilidades de luz. A estrada, que devia abrir-se numa outra mais larga, em vez disso é cada vez mais estreita, mais quebrada, com esquinas cada vez mais fechadas, até que de repente, cedo demais, eles se vêem debaixo do arco final: uma freada e um sacolejo terrível. É um juízo que não permite recurso.

A caravana parou. É o fim da linha. Todos os evacuados recebem ordem de saltar. Andam devagar, mas sem opor resistência. Aqueles que os conduzem têm na cabeça rosetas cor de chumbo, e não falam. É algum hotel enorme, velhíssimo, escuríssimo, uma extensão de ferro dos trilhos e chaves que os trouxeram até aqui… Luminárias globulares, pintadas de verde-escuro, que há séculos não são acesas, pendem dos beirais de ferro trabalhado… a multidão avança sem murmúrios nem tosses por corredores retos e funcionais como os de um depósito… superfícies de um negro aveludado envolvem esta movimentação: um cheiro de madeira velha, de alas remotas há anos abandonadas recém-reabertas para armazenar este amontoado de almas, de reboco frio onde todos os ratos morreram, só restam seus fantasmas, imóveis como pinturas rupestres, teimosos e luminosos nas paredes… os evacuados são levados em grupos, num elevador – um andaime móvel de madeira, aberto em todos os lados, suspenso por cordas velhas sujas de breu e roldanas de ferro fundido com raios em forma de S. Em cada pardacento, saltam e entram passageiros… milhares de cômodos silenciosos sem luz…

Alguns aguardam a sós, alguns dividem os quartos invisíveis com outros. Invisíveis, sim, pois que importa a mobília nesta etapa dos acontecimentos? Os sapatos pisam a sujeira mais velha da cidade, as últimas cristalizações de tudo que a  cidade negara, ameaçara, mentira a seus filhos. Cada um ouve uma voz, que lhe dá a impressão de falar só para ele, dizendo: "No fundo você não acreditava que ia ser salvo. Ora, a esta altura todos nós já sabemos quem somos. Ninguém jamais iria se dar ao trabalho de salvar você , meu caro…".

Não há saída. É deitar-se e esperar, em silêncio. O grito se sustenta no céu. Quando vier, virá na escuridão ou trará sua própria luz? A luz virá antes ou depois?

Mas já é dia. Há quanto tempo estará claro? Esse tempo todo a luz estava entrando, filtrada, juntamente com o ar frio da manhã que agora roça seus mamilos: começa a revelar um amontoado de vagabundos bêbados, uns de uniforme, outros à paisana, agarrados a garrafas vazias ou quase vazias, um jogado sobre uma cadeira, outro encolhido dentro de uma lareira fria, outros esparramados em diversos divãs, tapetes empoeirados e chaises-longues, nos diferentes níveis da sala enorme, roncando e ofegando em diversos ritmos, num coro incessante, enquanto a luz londrina, luz hibernal e elástica, cresce entre as faces das janelas de caixilhos, cresce entre as camadas de fumaça da noite passada que ainda paira, a dissipar-se, entre as vigas enceradas do teto. Todos esses supinos, esses companheiros de luta, têm rostos rosados de camponeses holandeses sonhando com a ressurreição certeira nos próximos minutos."

Thomas Pynchon - O Arco-Íris da Gravidade; capítulo 1 - Além do Zero, páginas 9, 10 e 11. Tradução de Paulo Henriques Britto

17/04/2011

A Day Made of Glass... Ou não!

   Estava assistindo a este vídeo, que parece ser mais uma campanha publicitária do que uma aposta no furo da humanidade. Veja:




   Percebeu quão utópica é a fantasia deste vídeo? Não pelo fato da tecnologia ter se desenvolvido até chegar a este ponto tão confortável. Um tanto quanto mágico. Mas pela aplicação que fizeram destas tecnologias no vídeo. Ora. Uma vez que temos a cena em que uma mulher transfere dados de um “computador” em um ponto de ônibus para seu aparelho tecnológico não identificado, sendo que este “computador” estava sem proteção alguma, nem seguranças ao lado fazendo a proteção, não consigo imaginar uma situação dessa em plena cidade de São Paulo sem que vidros quebrados e pixações apareçam em minha mente. Uma cidade onde (ao que parece) os sistemas operacionais são integrados, já vejo um cracker roubando um carro em movimento na cidade de Belo Horizonte através de seu notebook (ou seja lá o que for na época) dentro de seu quarto na cidade de Muriaé.

   As preocupações tecnológicas que visam o conforto do ser humano devem sim estar em questão, mas não se pode negligenciar a necessidade de uma observação sistêmica dos processos sociais para uma medida preventiva do mau comportamento da comunidade, grupo, sociedade, o que for. Somente assim poderemos unir os benefícios das tecnologias e a consciência no bom uso das mesmas pelo ser humano.

   Observando-se que uma vez o avião foi inventando por uma pessoa que pensava em viajar de forma mais rápida para outros lugares, hoje essa mesma ferramenta é usada para fins de guerra.

   Bom, não podemos esquecer que essa campanha publicitária visa gerar lucros para o dono da empresa, nada que tenha alguma aplicação político-social, mas ainda sim, mexe com toda a nossa imaginação como um bom livro de Isaac Asimov.