Vocês já assistiram ao filme Perfume, a história de um assassino? Caso não tenham visto, deixo aqui a dica!
Essa nova página em nosso blog chama-se Análise livre, pois nela pretendemos analisar filmes, livros, quadrinhos, álbuns, e outros da forma que nos der na idéia. Nossa primeira análise é sobre o filme Perfume, e vamos aplicar nessa análise a relação mãe-bebê como visto pelo psicanalista Winnicott, já que atualmente existe uma enorme população crescente que se preocupa pelo desenvolvimento das nossas crianças. Esse texto poderá trazer algumas novidades, e uma visão nova para você caro leitor.
Para se entender essa visão do filme, nos é necessário apresentar uma visão geral e rápida da teoria.
Atenção, isto aqui se tornou uma área de spoilers...
Winnicott dedicou grande parte de seu tempo com os estudos da relação mãe-bebê, e pode se dizer que essa é a essência de seus estudos.
O desenvolvimento emocional do bebê, as habilidades e o cuidado materno às necessidades do bebê eram caminhos freqüentemente encontrados em seu trabalho, e são duas diretrizes que se cruzam e que apóiam sua frase "não existe essa coisa chamada bebê", pois para Winnicott o bebê não pode existir sozinho, já que não pode viver sem a figura materna que vai lhe prover ambiente e atender as suas necessidades, o que vai levar o bebê ao amadurecimento.
Dependência. No início de sua vida, o bebê possui dependência absoluta em relação à mãe, então necessita de uma certa identificação com a mãe, e esta deve ser capaz de atender as suas necessidades, e a partir dessas condições, favoráveis ou desfavoráveis, o bebê tem sua subjetividade formada e vem a ser de modos diferentes conforme isso.
Winnicott diz que Para que a criança possa se desenvolver ela precisa ter um ambiente facilitador (onde seus tutores lhe ofereçam a capacidade de evoluir) - holding - e uma boa relação com a mãe. “Ao lhe dar amor, a mãe fornece-lhe uma espécie de energia vital que o faz progredir e amadurecer”.
O afeto e o amor são fundamentais para um bom desenvolvimento. Jean Baptiste (personagem principal do filme) foi rejeitado e abandonado ao nascer e depois foi levado a um orfanato. Não teve um ambiente facilitador nem ninguém que substituísse o papel da mãe e o ajudasse e ensinasse a desenvolver de forma adequada o seu dom. Nunca houve alguém que o amasse, somente pessoas que queriam tirar proveito dele de alguma forma (isso será percebido ao longo do filme).
A criança adquire experiência brincando. Ela brinca para dominar a angústia.
Jean Baptiste nunca brincou, trabalhou desde criança. Portanto, não pôde aprender a lidar com suas angústias.
A criança só pode reconhecer alguém como ser humano quando é reconhecida como ser humano.
Jean Baptiste não conseguia se perceber (quando ele está na caverna diz-se que ele não conseguia sentir seu cheiro e que se preocupou por nunca ter deixado sua marca – que seria o cheiro – e ninguém nunca o teria percebido por esse motivo. Como nunca teve ninguém que o reconhecesse, ele mesmo não se reconhecia e não era capaz de reconhecer outras pessoas enquanto seres humanos. Fazer o melhor perfume foi a maneira que ele encontrou de ser reconhecido e amado (ele passa o perfume e imagina a primeira garota que ele matou cheirando-o, abraçando-o, como se ela o amasse). Ele retorna ao lugar onde nasceu e derrama o perfume sobre si. Isso me pareceu ser a maneira dele lidar com a rejeição que sentia, como se essa fosse uma forma dele ser aceito no seu lugar de origem e tornar-se parte daquele lugar novamente.
Uma frase que transmite bem todas essas coisas é dita no fim do filme: “Só havia uma coisa que o perfume não podia fazer: não podia fazer dele uma pessoa capaz de amar e ser amado como todas as outras”.
Espero que este texto tenha agradado, e acrescentado algo para vocês, se gostaram, comentem, e nos envie e-mails. Até a próxima.
Por Neanderthal