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27/06/2010

Reflexo




E o dia amanhece em sépia. O homem levanta, se dirige ao banheiro e urina como normalmente faz todos os dias após se levantar. Ainda meio letárgico ele abre a torneira da pia e enxágua seu rosto.
Agora ativo, pode através de suas rugas e cabelos brancos perceber o peso de seus quarenta e sete anos refletidos no espelho. Não que ele fosse velho, tampouco tivesse as feições se um idoso - era alto em seus 1,85m, por onde eram distribuídos 87 kg, caucasiano, olhos castanhos e expressivos - mas já não tinha a juventude que outrora ele havia tratado com apatia.
Naquele momento, veio em sua mente: "vaidade das vaidades, tudo é vaidade". E lembrou-se também de uma frase que lera na última noite antes se dormir, era de um conto de Saramago: "o sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa as pessoas, e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra..." Percebera então que o que vivera até ali era puramente ilusões, e nada era o que parecia ser.
- Como pude viver desta forma? - Perguntou.
O espelho ríspido e prontamente rebateu:
- Dize-me tu!
- Hein?
- Sim. Dize-me tu! O único que pode responder a esta pergunta é você mesmo. Você quis viver assim, ou alguém te impôs este modo de viver?
- Espere... Não sei... Como você está falando?
- Acalme-se! Se foque em minha pergunta.
O homem, um tanto atônito, começa a refletir na pergunta do espelho.
- Você tem razão! Talvez eu tenha escolhido este modo de viver. Minhas decisões... Aquela vez... Minhas palavras tão duras e amargas...
Neste exato momento o espelho estoura, e um estilhaço voa no rosto daquele que se encontrava em devaneio pensando na vida, como se fosse um tapa, e este por sua vez começa a sentir um reboliço em seu estômago. Ele olha para a privada e começa a ver o odor subir, para lá se direcionou e vomitou uma substância de cor marrom. O espelho para de falar e o dia perde seu tom sépia. Caiu a ficha: "Não devo tomar chá de cogumelo antes de dormir, o sonho é um prestidigitador hábil!”.

Por Neanderthal

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