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26/06/2011

Discursos vazios

Há algo nesses dias que me cansa muito. O verbalismo das pessoas. Vejo como que uma hipertrofia fagocitótica essas ideologias vazias, valores vazios, pensamentos vazios, DISCURSOS VAZIOS. As malditas pessoas estão cada vez mais se apoiando em palavras em vez de ações.

É claro o avanço das redes socias pelo mundo. Aqui no Brasil o Orkut está muito em voga, e quando eu tinha o meu perfil nessa rede eu aproveitava para fazer algumas análises. Deveras bizarras as coisas que vi por lá. Pessoas sem personalidade alguma tentando afirmar o pouco que tem na cabeça com comunidades frívolas. Tem gente por lá tentando afirmar sua beleza entrando em comundades como por exemplo: "TODA DANIELLE É LINDA". Comunidades no melhor estilo "SIM, SOU LINDA MESMO". E daí?

Convivia e ainda convivo com muitas pessoas que possuem perfil no Orkut, e participam de comunidades cada vez mais angustiantes. Então vejo muitas pessoas que colocam lá coisas que não correspondem com sua realidade. Já vi sujeitos que são tão imbecis e tão quadrados que entram em comunidades como "FALTA DE CONTEÚDO SÓ ANULA BELEZA", mas está esse indivíduo lá, se comportando como os alvos de crítica da própria comunidades que participa. É como se fosse um Judeu vestindo uma camisa nazista e gritando:
"odeio que guardem rancor!".

E quando eu via alguma comunidade de nome sério e que me sugeria que lá eu teria bons debates, encontraria muitas informações eriqueçedoras. Pronto, entrava eu lá em "Ateus" por exemplo. Os tópicos que realmente te direcionavam para um enriquecimento cultural maior tinham no máximo mais cinco ou seis postagens e logo morriam ali. Tópicos no estilo "você odeia os cristãos?" que deveria ser ignorado, pasmem, ultrapassavam uns duzentos posts. Todos com postagens dizendo que cristãos são idiotas, mereciam morrer, ou apanhar, piadas sem graça alguma. Te pergunto. Isso é ou não é um verbalismo filho de uma puta que vem tomando conta da maioria das pessoas. A pessoa sem preparo cultural alguma para conhecer o que é o ateísmo, o que são suas ideologias podem no orkut se passar como um ateu.

Com o orkut se torna muito fácil você se passar por alguém que não é, que faz coisas que você não faz realmente. Note, lá todos são felizes, ninguém é triste, e as vida deles parecem seguir numa maravilha. Pro inferno com todos eles.

28/04/2011

O Arco-Íris da Gravidade

Thomas Pynchon - Gravity's Rainbow (1973) , capa da 1ª edição.


"Um grito atravessa o céu. Já aconteceu antes, mas nada que se compare com esta vez.

É tarde demais. A Evacuação ainda continua, mas é tudo teatro. Não há luzes dentro dos vagões. Não há luz em lugar nenhum. Acima de sua cabeça elevam-se vigas velhas como uma rainha de aço, e em algum lugar lá no alto vidro que deixaria entrar a luz do dia. Mas é noite. Ele tem medo do modo como o vidro vai cair – em breve –, vai ser um espetáculo: o desabamento de um palácio de cristal. Porém caindo na escuridão total, sem nenhum lampejo de luz, só um grande estrondo invisível.

Sentado dentro do vagão, que tem vários níveis, imerso numa escuridão de veludo, sem nada para fumar, ele sente metal mais perto e mais longe rangendo e estalando, baforadas de vapor escapulindo, uma vibração na carroceria do vagão, uma expectativa, uma inquietação, todos os outros comprimindo-se a sua volta, os fracos, carneiros da segunda leva, todos desprovidos de sorte e tempo: bêbados, velhos ex-combatentes ainda em estado de choque por efeito de tiros de canhões obsoletos há 20 anos, vigaristas com trajes de cidade, vagabundos, mulheres exaustas com mais filhos do que parece possível uma pessoa ter, empilhados junto com as outras coisas a ser conduzidas à salvação. Só os rostos mais próximos são visíveis, e mesmo assim como imagens vagas num visor, rostos esverdeados de VIPS entrevistos por detrás de janelas à prova de bala disparando pela rua…

Começaram a andar. Vão em fila, saindo da estação principal, do centro da cidade, rumo aos bairros mais velhos e desolados. É por aqui que se sai? Rostos voltam-se para as janelas, mas ninguém ousa perguntar, não em voz alta. Chove. Não, não se trata de um desvencilhar, e sim de um emaranhamento – passam por baixo de arcos, entradas secretas de concreto podre que apenas pareciam ser o trevo de um viaduto… uns cavaletes de madeira escurecida deslizam lentamente por cima deles, e já  começaram os cheiros de carvão de um passado distante, cheiros de nafta no inverno, em domingos em que não havia tráfego algum, das formações feito coral, de uma vitalidade misteriosa, em torno das curvas cegas e desvios desertos, um cheiro azedo de vagões ausentes, de ferrugem velha, a crescer naqueles dias cada vez mais vazios, luminosos e profundos, especialmente ao amanhecer, com sombras azuis selando sua passagem, tentando reduzir os acontecimentos ao Zero Absoluto… e quanto mais avançam mais pobre é tudo a sua volta… cidades secretas e decrépitas dos pobres, lugares com nomes que ele nunca ouviu antes… paredes destruídas, cada vez menos telhados, cada vez menos possibilidades de luz. A estrada, que devia abrir-se numa outra mais larga, em vez disso é cada vez mais estreita, mais quebrada, com esquinas cada vez mais fechadas, até que de repente, cedo demais, eles se vêem debaixo do arco final: uma freada e um sacolejo terrível. É um juízo que não permite recurso.

A caravana parou. É o fim da linha. Todos os evacuados recebem ordem de saltar. Andam devagar, mas sem opor resistência. Aqueles que os conduzem têm na cabeça rosetas cor de chumbo, e não falam. É algum hotel enorme, velhíssimo, escuríssimo, uma extensão de ferro dos trilhos e chaves que os trouxeram até aqui… Luminárias globulares, pintadas de verde-escuro, que há séculos não são acesas, pendem dos beirais de ferro trabalhado… a multidão avança sem murmúrios nem tosses por corredores retos e funcionais como os de um depósito… superfícies de um negro aveludado envolvem esta movimentação: um cheiro de madeira velha, de alas remotas há anos abandonadas recém-reabertas para armazenar este amontoado de almas, de reboco frio onde todos os ratos morreram, só restam seus fantasmas, imóveis como pinturas rupestres, teimosos e luminosos nas paredes… os evacuados são levados em grupos, num elevador – um andaime móvel de madeira, aberto em todos os lados, suspenso por cordas velhas sujas de breu e roldanas de ferro fundido com raios em forma de S. Em cada pardacento, saltam e entram passageiros… milhares de cômodos silenciosos sem luz…

Alguns aguardam a sós, alguns dividem os quartos invisíveis com outros. Invisíveis, sim, pois que importa a mobília nesta etapa dos acontecimentos? Os sapatos pisam a sujeira mais velha da cidade, as últimas cristalizações de tudo que a  cidade negara, ameaçara, mentira a seus filhos. Cada um ouve uma voz, que lhe dá a impressão de falar só para ele, dizendo: "No fundo você não acreditava que ia ser salvo. Ora, a esta altura todos nós já sabemos quem somos. Ninguém jamais iria se dar ao trabalho de salvar você , meu caro…".

Não há saída. É deitar-se e esperar, em silêncio. O grito se sustenta no céu. Quando vier, virá na escuridão ou trará sua própria luz? A luz virá antes ou depois?

Mas já é dia. Há quanto tempo estará claro? Esse tempo todo a luz estava entrando, filtrada, juntamente com o ar frio da manhã que agora roça seus mamilos: começa a revelar um amontoado de vagabundos bêbados, uns de uniforme, outros à paisana, agarrados a garrafas vazias ou quase vazias, um jogado sobre uma cadeira, outro encolhido dentro de uma lareira fria, outros esparramados em diversos divãs, tapetes empoeirados e chaises-longues, nos diferentes níveis da sala enorme, roncando e ofegando em diversos ritmos, num coro incessante, enquanto a luz londrina, luz hibernal e elástica, cresce entre as faces das janelas de caixilhos, cresce entre as camadas de fumaça da noite passada que ainda paira, a dissipar-se, entre as vigas enceradas do teto. Todos esses supinos, esses companheiros de luta, têm rostos rosados de camponeses holandeses sonhando com a ressurreição certeira nos próximos minutos."

Thomas Pynchon - O Arco-Íris da Gravidade; capítulo 1 - Além do Zero, páginas 9, 10 e 11. Tradução de Paulo Henriques Britto

17/04/2011

A Day Made of Glass... Ou não!

   Estava assistindo a este vídeo, que parece ser mais uma campanha publicitária do que uma aposta no furo da humanidade. Veja:




   Percebeu quão utópica é a fantasia deste vídeo? Não pelo fato da tecnologia ter se desenvolvido até chegar a este ponto tão confortável. Um tanto quanto mágico. Mas pela aplicação que fizeram destas tecnologias no vídeo. Ora. Uma vez que temos a cena em que uma mulher transfere dados de um “computador” em um ponto de ônibus para seu aparelho tecnológico não identificado, sendo que este “computador” estava sem proteção alguma, nem seguranças ao lado fazendo a proteção, não consigo imaginar uma situação dessa em plena cidade de São Paulo sem que vidros quebrados e pixações apareçam em minha mente. Uma cidade onde (ao que parece) os sistemas operacionais são integrados, já vejo um cracker roubando um carro em movimento na cidade de Belo Horizonte através de seu notebook (ou seja lá o que for na época) dentro de seu quarto na cidade de Muriaé.

   As preocupações tecnológicas que visam o conforto do ser humano devem sim estar em questão, mas não se pode negligenciar a necessidade de uma observação sistêmica dos processos sociais para uma medida preventiva do mau comportamento da comunidade, grupo, sociedade, o que for. Somente assim poderemos unir os benefícios das tecnologias e a consciência no bom uso das mesmas pelo ser humano.

   Observando-se que uma vez o avião foi inventando por uma pessoa que pensava em viajar de forma mais rápida para outros lugares, hoje essa mesma ferramenta é usada para fins de guerra.

   Bom, não podemos esquecer que essa campanha publicitária visa gerar lucros para o dono da empresa, nada que tenha alguma aplicação político-social, mas ainda sim, mexe com toda a nossa imaginação como um bom livro de Isaac Asimov.

06/03/2011

Esse é o país que vai pra frente (Ironic)

Carnaval brasileiro visto pelos olhos de um brasileiro:


Carnaval brasileiro visto pelos olhos de qualquer pessoa que vive fora do Brasil:


"SAD BUT TRUE!"

05/03/2011

Untitled #1

05/03/11 02h34min. É domingo de carnaval. Uma chuvinha fina respinga na cabeça da cidade moribunda fazendo mil promessas de gripes futuras pros foliões incautos. Adoro quando chove no carnaval; não me levem a mal, não é – só – pelo meu instinto Lóki que digo isso, mas sim pela ótima funcionalidade que esse fator climático tem como desculpa (para mim mesmo, claro) pro fato d’eu estar recluso em casa durante esse período, afinal, quem em sã consciência trocaria seu próprio “santuário” pelo clima londrino que espera lá fora? Bem, pelo que eu vi na TV algumas horas atrás, a grande maioria...

Mas a situação é qualquer coisa de mais alarmante e, como dito anteriormente, o clima é uma mera desculpa; acontece que existe alguma Coisa lá fora... alguma Coisa que me é comparável a mais horrível das bestas que residem nas profundezas do inferno e algo me diz que essa porra dessa Coisa não vai dormir tão cedo. Ok, nem eu. Mas uma hora vou ter que sair – não se pode tirar férias da vida assim tão facilmente – e Ela vai estar lá, me esperando com seu abraço de urso filho da puta. No carnaval a Coisa se alimenta, no resto dos outros dias... também.

A TV desligada me mantém devidamente desatualizado, e isso é bom. O Coltrane soprando nos fones me mantém devidamente entretido, e isso também é bom. O que está errado então? Será que a felicidade de terceiros me incomoda? Será que sou um invejosozinho de meia tigela?

Quando comecei a escrever isso aqui, eu estava pensando em escrever um pequeno ensaio pseudo filosófico sobre como a felicidade é uma coisa espantosamente imbecil quando vista de fora, sobre como essa dança toda é dotada de um sentido absurdamente artificial e ilusório, escrever sobre como essa porra toda é terrivelmente deprimente e sobre como todos nós somos mesquinhos e pequenos e idiotas e doentes e uma porrada de outras coisas... Mas já são 02:45 e o meu gás inicial já acabou, deve ser esse tempo ou então só o niilismo me dizendo que ninguém, além do meu caro companheiro de blog, vai ler isso. Ou talvez, quem sabe, seja só A Coisa lá fora me avisando, telepaticamente, que não dá pra ganhar essa briga... 

Por JV. Pinheiro.

24/02/2011

A liberdade de ver os outros

Por David Foster Wallace – Brilhante escritor, tido por muitos como a maior promessa da literatura contemporânea; mas que , infelizmente, cometeu suicídio em setembro de 2008 – o texto foi retirado de seu discurso de paraninfo para formandos do Kenyon College.

“Dois peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho, nadando em sentido contrário. Ele os cumprimenta e diz:
Bom dia, meninos. Como está a água?
Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta:
Água? Que diabo é isso?
Não se preocupem, não pretendo me apresentar a vocês como o peixe mais velho e sábio que explica o que é água ao peixe mais novo. Não sou um peixe velho e sábio. O ponto central da história dos peixes é que a realidade mais óbvia, ubíqua e vital costuma ser a mais difícil de ser reconhecida. Enunciada dessa forma, a frase soa como uma platitude – mas é fato que, nas trincheiras do dia-a-dia da existência adulta, lugares comuns banais podem adquirir uma importância de vida ou morte.
Boa parte das certezas que carrego comigo acabam se revelando totalmente equivocadas e ilusórias. Vou dar como exemplo uma de minhas convicções automáticas: tudo à minha volta respalda a crença profunda de que eu sou o centro absoluto do universo, de que sou a pessoa mais real, mais vital e essencial a viver hoje. Raramente mencionamos esse egocentrismo natural e básico, pois parece socialmente repulsivo, mas no fundo ele é familiar a todos nós. Ele faz parte de nossa configuração padrão, vem impresso em nossos circuitos ao nascermos.
Querem ver? Todas as experiências pelas quais vocês passaram tiveram, sempre, um ponto central absoluto: vocês mesmos. O mundo que se apresenta para ser experimentado está diante de vocês, ou atrás, à esquerda ou à direita, na sua tevê, no seu monitor, ou onde for. Os pensamentos e sentimentos dos outros precisam achar um caminho para serem captados, enquanto o que vocês sentem e pensam é imediato, urgente, real. Não pensem que estou me preparando para fazer um sermão sobre compaixão, desprendimento ou outras “virtudes”. Essa não é uma questão de virtude – trata-se de optar por tentar alterar minha configuração padrão original, impressa nos meus circuitos. Significa optar por me libertar desse egocentrismo profundo e literal que me faz ver e interpretar absolutamente tudo pelas lentes do meu ser.
Num ambiente de excelência acadêmica, cabe a pergunta: quanto do esforço em adequar a nossa configuração padrão exige de sabedoria ou de intelecto? A pergunta é capciosa. O risco maior de uma formação acadêmica – pelo menos no meu caso – é que ela reforça a tendência a intelectualizar demais as questões, a se perder em argumentos abstratos, em vez de simplesmente prestar atenção ao que está ocorrendo bem na minha frente.
Estou certo de que vocês já perceberam o quanto é difícil permanecer alerta e atento, em vez de hipnotizado pelo constante monólogo que travamos em nossas cabeças. Só vinte anos depois da minha formatura vim a entender que o surrado clichê de “ensinar os alunos como pensar” é, na verdade, uma simplificação de uma idéia bem mais profunda e séria. “Aprender a pensar” significa aprender como exercer algum controle sobre como e o que cada um pensa. Significa ter plena consciência do que escolher como alvo de atenção e pensamento. Se vocês não conseguirem fazer esse tipo de escolha na vida adulta, estarão totalmente à deriva.
Lembrem o velho clichê: “A mente é um excelente servo, mas um senhorio terrível.” Como tantos clichês, também esse soa inconvincente e sem graça. Mas ele expressa uma grande e terrível verdade. Não é coincidência que adultos que se suicidam com armas de fogo quase sempre o façam com um tiro na cabeça. Só que, no fundo, a maioria desses suicidas já estava morta muito antes de apertar o gatilho. Acredito que a essência de uma educação na área de humanas, eliminadas todas as bobagens e patacoadas que vêm junto, deveria contemplar o seguinte ensinamento: como percorrer uma confortável, próspera e respeitável vida adulta sem já estar morto, inconsciente, escravizado pela nossa configuração padrão – a de sermos singularmente, completamente, imperialmente sós.
Isso também parece outra hipérbole, mais uma abstração oca. Sejamos concretos então. O fato cru é que vocês, graduandos, ainda não têm a mais vaga idéia do significado real do que seja viver um dia após o outro. Existem grandes nacos da vida adulta sobre os quais ninguém fala em discursos de formatura. Um desses nacos envolve tédio, rotina e frustração mesquinha.
Vou dar um exemplo prosaico imaginando um dia qualquer do futuro. Você acordou de manhã, foi para seu prestigiado emprego, suou a camisa por nove ou dez horas e, ao final do dia, está cansado, estressado, e tudo que deseja é chegar em casa, comer um bom prato de comida, talvez relaxar por umas horas, e depois ir para cama, porque terá de acordar cedo e fazer tudo de novo. Mas aí lembra que não tem comida na geladeira. Você não teve tempo de fazer compras naquela semana, e agora precisa entrar no carro e ir ao supermercado. Nesse final de dia, o trânsito está uma lástima.
Quando você finalmente chega lá, o supermercado está lotado, horrivelmente iluminado com lâmpadas fluorescentes e impregnado de uma música ambiente de matar. É o último lugar do mundo onde você gostaria de estar, mas não dá para entrar e sair rapidinho: é preciso percorrer todos aqueles corredores superiluminados para encontrar o que procura, e manobrar seu carrinho de compras de rodinhas emperradas entre todas aquelas outras pessoas cansadas e apressadas com seus próprios carrinhos de compras. E, claro, há também aqueles idosos que não saem da frente, e as pessoas desnorteadas, e os adolescentes hiperativos que bloqueiam o corredor, e você tem que ranger os dentes, tentar ser educado, e pedir licença para que o deixem passar. Por fim, com todos os suprimentos no carrinho, percebe que, como não há caixas suficientes funcionando, a fila é imensa, o que é absurdo e irritante, mas você não pode descarregar toda a fúria na pobre da caixa que está à beira de um ataque de nervos.
De qualquer modo, você acaba chegando à caixa, paga por sua comida e espera até que o cheque ou o cartão seja autenticado pela máquina, e depois ouve um “boa noite, volte sempre” numa voz que tem o som absoluto da morte. Na volta para casa, o trânsito está lento, pesado etc. e tal.
É num momento corriqueiro e desprezível como esse que emerge a questão fundamental da escolha. O engarrafamento, os corredores lotados e as longas filas no supermercado me dão tempo de pensar. Se eu não tomar uma decisão consciente sobre como pensar a situação, ficarei irritado cada vez que for comprar comida, porque minha configuração padrão me leva a pensar que situações assim dizem respeito a mim, a minha fome, minha fadiga, meu desejo de chegar logo em casa. Parecerá sempre que as outras pessoas não passam de estorvos. E quem são elas, aliás? Quão repulsiva é a maioria, quão bovinas, e inexpressivas e desumanas parecem ser as da fila da caixa, quão enervantes e rudes as que falam alto nos celulares.
Também posso passar o tempo no congestionamento zangado e indignado com todas essas vans, e utilitários e caminhões enormes e estúpidos, bloqueando as pistas, queimando seus imensos tanques de gasolina, egoístas e perdulários. Posso me aborrecer com os adesivos patrióticos ou religiosos, que sempre parecem estar nos automóveis mais potentes, dirigidos pelos motoristas mais feios, desatenciosos e agressivos, que costumam falar no celular enquanto fecham os outros, só para avançar uns 20 metros idiotas no engarrafamento. Ou posso me deter sobre como os filhos dos nossos filhos nos desprezarão por desperdiçarmos todo o combustível do futuro, e provavelmente estragarmos o clima, e quão mal-acostumados e estúpidos e repugnantes todos nós somos, e como tudo isso é simplesmente pavoroso etc. e tal.
Se opto conscientemente por seguir essa linha de pensamento, ótimo, muitos de nós somos assim – só que pensar dessa maneira tende a ser tão automático que sequer precisa ser uma opção. Ela deriva da minha configuração padrão.
Mas existem outras formas de pensar. Posso, por exemplo, me forçar a aceitar a possibilidade de que os outros na fila do supermercado estão tão entediados e frustrados quanto eu, e, no cômputo geral, algumas dessas pessoas provavelmente têm vidas bem mais difíceis, tediosas ou dolorosas do que eu.
Fazer isso é difícil, requer força de vontade e empenho mental. Se vocês forem como eu, alguns dias não conseguirão fazê-lo, ou simplesmente não estarão a fim. Mas, na maioria dos dias, se estiverem atentos o bastante para escolher, poderão preferir olhar melhor para essa mulher gorducha, inexpressiva e estressada que acabou de berrar com a filhinha na fila da caixa. Talvez ela não seja habitualmente assim. Talvez ela tenha passado as três últimas noites em claro, segurando a mão do marido que está morrendo. Ou talvez essa mulher seja a funcionária mal remunerada do Departamento de Trânsito que, ontem mesmo, por meio de um pequeno gesto de bondade burocrática, ajudou algum conhecido seu a resolver um problema insolúvel de documentação.
Claro que nada disso é provável, mas tampouco é impossível. Tudo depende do que vocês queiram levar em conta. Se estiverem automaticamente convictos de conhecerem toda a realidade, vocês, assim como eu, não levarão em conta possibilidades que não sejam inúteis e irritantes. Mas, se vocês aprenderam como pensar, saberão que têm outras opções. Está ao alcance de vocês vivenciarem uma situação “inferno do consumidor” não apenas como significativa, mas como iluminada pela mesma força que acendeu as estrelas.
Relevem o tom aparentemente místico. A única coisa verdadeira, com V maiúsculo, é que vocês precisam decidir conscientemente o que, na vida, tem significado e o que não tem.
Na trincheira do dia-a-dia, não há lugar para o ateísmo. Não existe algo como “não venerar”. Todo mundo venera. A única opção que temos é decidir o que venerar. E o motivo para escolhermos algum tipo de Deus ou ente espiritual para venerar – seja Jesus Cristo, Alá ou Jeová, ou algum conjunto inviolável de princípios éticos – é que todo outro objeto de veneração te engolirá vivo. Quem venerar o dinheiro e extrair dos bens materiais o sentido de sua vida nunca achará que tem o suficiente. Aquele que venerar seu próprio corpo e beleza, e o fato de ser sexy, sempre se sentirá feio – e quando o tempo e a idade começarem a se manifestar, morrerá um milhão de mortes antes de ser efetivamente enterrado.
No fundo, sabemos de tudo isso, que está no coração de mitos, provérbios, clichês, epigramas e parábolas. Ao venerar o poder, você se sentirá fraco e amedrontado, e precisará de ainda mais poder sobre os outros para afastar o medo. Venerando o intelecto, sendo visto como inteligente, acabará se sentindo burro, um farsante na iminência de ser desmascarado. E assim por diante.
O insidioso dessas formas de veneração não está em serem pecaminosas – e sim em serem inconscientes. São o tipo de veneração em direção à qual você vai se acomodando quase que por gravidade, dia após dia. Você se torna mais seletivo em relação ao que quer ver, ao que valorizar, sem ter plena consciência de que está fazendo uma escolha.
O mundo jamais o desencorajará de operar na configuração padrão, porque o mundo dos homens, do dinheiro e do poder segue sua marcha alimentado pelo medo, pelo desprezo e pela veneração que cada um faz de si mesmo. A nossa cultura consegue canalizar essas forças de modo a produzir riqueza, conforto e liberdade pessoal. Ela nos dá a liberdade de sermos senhores de minúsculos reinados individuais, do tamanho de nossas caveiras, onde reinamos sozinhos.
Esse tipo de liberdade tem méritos. Mas existem outros tipos de liberdade. Sobre a liberdade mais preciosa, vocês pouco ouvirão no grande mundo adulto movido a sucesso e exibicionismo. A liberdade verdadeira envolve atenção, consciência, disciplina, esforço e capacidade de efetivamente se importar com os outros – no cotidiano, de forma trivial, talvez medíocre, e certamente pouco excitante. Essa é a liberdade real. A alternativa é a torturante sensação de ter tido e perdido alguma coisa infinita.
Pensem de tudo isso o que quiserem. Mas não descartem o que ouviram como um sermão cheio de certezas. Nada disso envolve moralidade, religião ou dogma. Nem questões grandiosas sobre a vida depois da morte. A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos 30 anos, ou talvez aos 50, sem querer dar um tiro na própria cabeça. Diz respeito à consciência – consciência de que o real e o essencial estão escondidos na obviedade ao nosso redor – daquilo que devemos lembrar, repetindo sempre: “Isto é água, isto é água.” É extremamente difícil lembrar disso, e permanecer consciente e vivo, um dia depois do outro.”

DAVID FOSTER WALLACE
(21 de fevereiro de 1962 — 12 de setembro de 2008)

18/02/2011

Saiu o novo álbum do Radiohead.


Estamos em 2011 e há quem diga que a boa música esta morta. Há quem diga também que esse negócio de bom e ruim é tudo uma questão de interpretação e qualquer julgamento é um desrespeito para com a subjetividade humana. Existem ainda aqueles (céticos ou ingênuos) que dizem que a originalidade se perdeu para sempre e daqui em diante só escutaremos a cópia da cópia.

Existem vários outros ainda – perdidos num emaranhado de vozes dissonantes – os quais não convêm citar no momento, porque não é a minha intenção perder mais tempo com essa porra agora, não senhor. Agora, nesse exato momento (enquanto redijo isso aqui), estou escutando o ultimo álbum lançado pelo Radiohead e o que dizem ou deixam de dizer já não me interessa nem um pouco.

Não sei quanto aos outros, mas eu acredito na música sensorial.

Não é pré-requisito ser entendido de porra nenhuma para que os ouvidos possam se maravilhar com essas complexas camadas de harmonia sonora (e por vezes a falta dela) que se acumulam, assimilam umas às outras, brincam organizadas segundo um rítmico padrão matemático e morrem logo em seguida...

Pequenos sons que quando combinados são capazes de (re)construir sentimentos e memórias: a trilha sonora de um fluxo de consciência.

The King of Limbs é DO CARALHO. Desde a excelente abertura, um tanto quanto esquizofrênica e um tanto quanto Krautrockiana com a fantástica “Bloom”, Até as viagens eletrônicas altamente atmosféricas e – acreditem – até mesmo dançantes em músicas como “Little by Little” e “Feral”. Temos também o apelo um pouco mais pop (porem sofisticado e melancólico) de “Lótus Flower”, provavelmente a música com maior tendência a se tornar o single do álbum. Isso sem esquecer, é claro, as músicas com a clássica pegada depressiva bem própria da banda, dentre essas, destaque para “Codex”.

Sem mais delongas, apreciem sem moderação.

Radiohead – The King of Limbs (2011)

1 - Bloom
2 - Morning Mr Magpie
3 - Little By Little
4 - Feral
5 - Lotus Flower
6 - Codex
7 - Give Up The Ghost
8 - Separator

Download: http://www.mediafire.com/?83418c29hbdq5qc
ou
Download: http://www.megaupload.com/?d=7HYWZBYG
 

Por JV. Pinheiro

12/02/2011

Apoio descarado ao machismo na REDE GLOBO

   O vídeo abaixo é um caso já conhecido entre muitos brasileiros, mas, já que o carnaval se aproxima, podemos retomar à essa assunto para mostrarmos mais uma vez essas mazelas que a mídia, em matrimônio com o poder das elites anda fazendo.

   Esse vídeo é uma propaganda de cerveja, que foi banida da REDE GLOBO por ser considerada apelativa demais para quem esteja assistindo TV no momento. Confiram:


   Ora. Se a REDE GLOBO considera Paris Hilton em toda a sua feminilidade nesse vídeo um absurdo para com os telespectadores, então porque não consideram também a tal da Globeleza, que samba completamente nua, a qualquer horário, uma grande exposição da mulher?

   Confira esse vídeo também:
 
 
   Sim caros leitores. A mídia atende aos pedidos dos grandes latifundiários, e políticos, que se unem para tentarem cegar o povo com entretenimento de má qualidade tratado como se fosse cultura de qualidade para "mentes sedentas".

   Mais uma vez vemos uma atitude forçada de protencionismo reacionário da globo pelas campanhas de cervejas que mostram em suas propagandas o conceito perfeito de mulheres-objeto, tal qual a dançarina Globeleza. Temos aqui, uma amostra perfeita da tentativa da inversão dos conceitos de feminilidade, apoio total ao machismo para controlar os machos bobalhões-alegres que acham muito bonito uma bunda nua pintada pulando na tela de sua tv. E com todo esse showzinho barato, não estão nem aí para a realidade do mundo que a maioria não percebe.
 
Por Neanderthal

04/02/2011

"Algumas noites atrás, eu entrei num pub a caminho de casa e pedi uma Guinness..."



"Não olhei o relógio, mas sei que ainda não eram oito horas. Era uma quinta-feira e eu podia ouvir a televisão ao fundo, passando o mais recente episódio de EastEnders - um seriado sobre o dia-a-dia de trabalhadores alegres e descontraídos de um bairro mítico e decadente de Londres.

Sentei-me a uma mesa e peguei um exemplar de um jornal gratuito que alguém havia largado por lá. Era uma edição que eu já havia lido. Não trazia muitas novidades. Pus o Jornal de lado e resolvi me sentar no balcão.

A noite não estava movimentada. Dava pra ouvir o murmúrio distante da TV em meio ao burburinho das pessoas no balcão e ao estalar das bolas de bilhar.

Depois de EastEnders, veio Porridge - a reprise de uma sitcom sobre um prisioneiro alegre e descontraído numa prisão vitoriana decadente e, por conveniência, nada opressiva.

Quase imperceptivelmente, escorria bebida dos dosadores de garrafas tombadas atrás do balcão. Gotas de uísque e vodka se formavam e caíam sem alarde diante dos meus olhos.

Terminei meu copo. Ergui a cabeça e o barman notou meu movimento. "Guinness?", indagou ele, já alcançando o outro copo limpo. Confirmei com a cabeça.

A mulher do barman chegou e pôs-se a ajudá-lo no atendimento aos clientes que entravam e saíam.

Às 8:30, após Porridge, veio A Question of Sport - um show de perguntas estrelando celebridades esportivas alegres e descontraídas.

Reinou o bom humor.

"Vou avisar o barman sobre os dosadores vazando", pensei. O Noticiário das Nove entrou logo depois de A Question of Sport... ou, pelo menos, 30 segundos antes da televisão ser desligada e ceder lugar à música pop alegre e descontraída.

Olhei pro barman. "Só metade desta vez", disse eu.

Enquanto ele enchia o copo, indaguei-lhe solenemente por que havia desligado justo no noticiário. "Não reclame comigo. Foi a patroa.", respondeu num tom alegre e descontraído, enquanto o alvo de seu comentário labutava num canto do balcão.

Os dosadores vazantes deixaram de ter qualquer importância pra mim.

Terminei minha cerveja e parti, quase certo de que a TV continuaria desligada o resto da noite. Afinal, depois do Noticiário das Nove, viria Os Meninos do Brasil, um filme com poucos personagens alegres e descontraídos, que trata de um bando de nazistas criando 94 clones de Adolf Hitler.

Em V DE VINGANÇA, também não há muitos personagens alegres e descontraídos; e é pra gente que não desliga na hora do noticiário."

David Lloyd
14 de janeiro de 1990

29/01/2011

O brega-popularesco é a cegueira do povo

Por estes dias eu estava conversando sobre música com uma grande amiga minha que embora se interesse por conversas mais intelectuais reprovava minha atitude de ataque ao que chamo de brega-popularesco, afinal, ela é adepta de músicas do mainstream, e alguns entretenimentos
espalhados por aí pela grande mídia manipuladora dos fracos.

Chamo de brega-popularesco aquele estilo musical, ou cultura consumida pela grande massa que é vítima da enorme propaganda do efêmero e falso realizada pelas grandes redes, sendo que na verdade deveriam passar a analisar a qualidade do produto através de senso crítico, e não pela aprovação em massa propagada pela TV.

Voltando à minha amiga, ela afirmava que eu estava menosprezando a cultura das outras pessoas, e que apenas levantava a bandeira do meu estilo musical por ser meu estilo musical preferido.

Na verdade, o que me motiva a atacar o brega-popularesco é o fato de ele ser uma cultura proposta pela direita, a fim de calar o povo no melhor estilo: "pão e circo" e vedá-los para não refletirem sobre a sociedade atual em que vivemos, e a prova disso é que no brega-popularsco você jamais verá músicas com letras de revolta. Em um Brasil onde a ordem pública é perturbada por criminosos o tempo todo, e as autoridades gastam o dinheiro com Copa do Mundo e Olimpíadas em vez de investirem em obras contra as enchentes que assolaram o Rio de Janeiro nas últimas semanas, as músicas que expressam o pensamento do povo são músicas como o "Rebolation", e várias outras em que se dá a impressão de que tudo vai bem, tão bem que nos resta apenas beijar na boca.

O recreio popularesco tem como fim silenciar o brasileiro.

Em suas artimanhas a direita coloca o funk como a expressão cultural mais profunda da perifeira. Tentam inverter os valores colocando as mulheres-fruta como símbolo do feminismo enquanto na verdade não passam apenas de uma das várias ferramentas que mostram o poder do machismo aflorando nessa sociedade atual que se diz defensora dos direitos feministas.

Depois ainda tenho que encarar vários reacionários que me dizem: "você é contra a cultura do povo, seu classe-média preconceituoso!".

Na verdade preconceituosos são os donos das indústrias, os latifundiários, direitistas que se fundem com a mídia e propagam a cultura do efêmero na intenção de tampar os olhos de todos para que não vejam as mazelas do nosso país. Preconceituosos são eles que não permitem que as pessoas das periferías se tornem grandes figuras públicas pois não conseguem enxergar a chaga que se abre em seu próprio solo.


Lutemos então contra a grande mídia e seus filhos cancerígenos.

22/01/2011

O papel da música gospel na mortificação do espírito político e da ação social

   Posso simplesmente classificar TODAS as letras de música gospel em apenas: Lixo.

   Qual a mensagem principal que todas elas passam? "Deixe estar, deite na sua cama, alguém fará algo por você."

   As vezes quando estou em casa algum vizinho ou alguém por perto decide escutar esse estilo musical. Várias vezes, durante esses momentos eu parei para analisar o conteúdo das letras, as ideologias por trás das crenças, e seus efeitos sobre os consumidores de tal produto. Conversei com esses consumidores, e muitas vezes tive a oportunidade de ouvir suas conversas na fila do banco ou no ponto de ônibus. Pude observar que eles possuem uma necessidade muito grande de se sentirem seguros em relação ao que o futuro pode trazer.

   Freud em seu texto "O Futuro de uma ilusão" deixa bem claro o princípio de toda essa necessidade do ser humano de controlar fatores incontroláveis, de poder manipular o caos total que são as variáveis que regem a lei deste nosso mundo. E ele é bem taxativo. Classifica esse comportamento como IMATURIDADE.

   Para Freud, essa necessidade de algum ser superior, um pai supremo que venha amenizar as dores da vida ou até mesmo extingui-las é uma característica que vem da infância, chamado de "sentimento primário do eu". A criança, desprotegida, precisa de alguém mais forte para interceder por ela, no caso, seus responsáveis.

   Na vida adulta, muitos não conseguem se livrar dessa carácterística primária e procuram focar essa necessidade em algo maior, e, em sua concepção: lógico. Criam deuses, criam crenças, subterfúgios para não encarar o caos verdadeiro. Não conseguem assumir sua autonomia, não percebem que na verdade não se pode controlar o futuro, que a o mundo joga de acordo com as regras da probabilidade. Talvez isso seja em grande parte o problema fundamental do medo do câncer, da AIDS, da morte.

   O que é pior, é como essa necessidade é espalhada como que uma doença perniciosa, em forma de ensinamentos, pessoas são condicionadas desde a infância a continuarem nessa dependência.

   A música gospel é mais uma das diversas ferramentas reforçadoras da mortificação do espírito vitorioso com o qual nascemos. Nela, o incentivo à crença de que "se você confia n'ele, ele mudará sua situação" é a todo o momento incentivado. O imperativo para que o seguidor, o crente omita todas as suas apreenções do mundo e passe a pensar e agir da forma como se é proposto pela crença, também é sempre instalado na mente das "ovelhas".

   Agora, olhem bem na cara de nossa sociedade, e somem todos os fatores dessa equação. Temos de um lado, jovens alienados de seu papel político e que acham que realmente vivem em uma democracia, e não há nada mais a ser feito. De outro lado, uma massa crescente de pessoas ideológicamente mortas por causa de sua religião, dispostas a matar mais pessoas e arrebatá-las para o seu rebanho, e bem no meio, pensadores e intelectuais sendo marginalizados por pensarem diferente. Não teremos um resultado satisfatório.

   MORTE À RELIGIÃO.

13/01/2011

O retrato perfeito sobre o cristianismo na Idade Média em "O nome da rosa"

O filme “O nome da Rosa”, de 1986, dirigido por Jean-Jacques Annaud passa em um mosteiro de 1327 na Itália onde a ordem é perturbada por uma série de mortes. Os monges acreditavam ser uma obra do demônio. Frei William de Baskerville é chamado para ajudar nas investigações das mortes. Munido de princípios racionais e científicos ele percebe que as mortes não estavam ligadas à obras confabuladas por entidades extraterrenas, mas sim à um livro polêmico escrito por Aristóteles. O livro seria supostamente o segundo volume de A Poética, que discorria sobre a boa natureza cognitiva do humor e do riso, justamente o que era banido dos preceitos cristãos no monastério, dito que o riso era obra do demônio. É sabido que para os monges beneditinos apresentados no filme, a vida de santidade que escolheram os diferenciava do homem comum, portanto, a vida de austeridade que levavam era o caminho para se manterem santos, portanto, aqueles que tocavam no livro e sabiam de sua existência eram mortos.

Não se sabe se o livro realmente existiu no mundo real, mas é fato que o filme é uma descrição cinematográfica do poder que a igreja mantinha na idade média.

No Império Romano nasce a religião cristã, por séculos se expandiu e obteve mais tarde de Roma o direito de liberdade de culto. A igreja consolidou-se quando houve a conversão do povo da Germânia, pois ai sobreviveria à degradação do império Romano no ocidente. A igreja católica mantinha a unidade religiosa, cultural e política. Ditava as formas de nascer, morrer e festejar.

Na Idade Média a riqueza era medida pela quantidade de terra, e a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa ocidental, conhecida, portanto como a grande senhora feudal. Grande parte dessas terras foi adquirida através de doações de fiéis, que, com o ato, supostamente conseguiriam garantir seu lugar no céu.

O Papa Gregório IX criou, em 1231, os tribunais da Inquisição, cuja missão era descobrir e julgar os heréticos, pois havia diversas práticas religiosas que não seguiam a prática cristã estritamente e se chocavam com os dogmas da Igreja.

Na tentativa de descobrir se os réus eram de fato culpados ou não, muita dor e sofrimento era infligido aos suspeitos. Manuais de tortura eram seguidos à risca para fazer com que o réu a qualquer custo confessasse sua culpa. Muitos saiam mortos das sessões ou pelo menos com fraturas e traumas.

A ação dos tribunais da Inquisição estendeu-se por vários reinos cristãos: Itália, França, Alemanha, Portugal e, especialmente, Espanha. Nesse último país, a Inquisição penetrou profundamente na vida social, possuindo uma gigantesca burocracia pública com cerca de vinte e cinco mil funcionários a serviço do movimento inquisitorial. Pressionada pelas monarquias católicas, a Inquisição desempenhou um papel político e social, freando os movimentos contrários às classes dominantes e, dessa maneira, ultrapassando sua finalidade declarada de proceder ao mero combate às heresias religiosas.

O filme O nome da Rosa elucida de forma clara o que foi o período medieval e a dominação imposta pela igreja católica medieval. O controle da população de fiéis era feito através da retenção do conhecimento para as mãos de poucos e a propagação do medo do que é invisível, onipresente, poderoso e mal. O ato pela razão era tolhido. O poder político e cultural era centralizado na mão da elite, e essa era a união entre o Estado e a Igreja. Muito embora esse período seja conhecido pela não evolução da ciência, e chamado então de “idade das trevas”, a produção artística não foi inexistente, apenas se focava em preceitos religiosos. Muitos obras musicais, muitas pinturas foram produzidas nesse período.


Por Neanderthal

06/01/2011

A respeito da vida útil de alguns moluscos com câncer cerebral ser tão subestimada, enquanto alguns seres humanos enchem o cu de informações abstratas e pornográficas

O que falar? O que dizer num admirável mundo velho onde aparentemente tudo já foi dito? Não sei nem saberei, talvez. Estamos sendo bombardeados por inimigos invisíveis nesse exato instante, nossos sonhos são programados e a naturalidade é uma ilusão. Mas você já deve saber disso, afinal, tudo tem uma lógica, a lógica da entropia: estamos caminhando pro caos completo e a única saída racional é se tornar um paranóico. Não se esqueçam de Pynchon. Aliás, não se esqueçam de nada, ainda que “abençoados sejam os esquecidos..” e bla bla bla, fodam-se eles, aqui no subsolo subsiste apenas o camundongo de consciência amplificada, em outras palavras: não renegue a maldição, ela é necessária.

Auto destruição em 5, 4, 2, 3, 2.... NÃO! Pane no sistema! “Não haverá saída livre” estamos fodidos...  a agonia é lenta e nem tudo é permitido (só o que cabe na imaginação). 

O que falar?

“Agora o mundo todo está na beira do abismo contemplando o inferno e os liberais, intelectuais e sedutores de fala macia... de repente não sabem mais o que dizer”
12 de outubro de 1985.

Estamos revoltados, o problema é que não sabemos exatamente contra o quê... Contra tudo e contra todos, contra Deus, contra nós mesmos e contra nada ao mesmo tempo. A luta aos poucos se torna vazia e as mãos já não sabem o que atingir.

Culpem o pós-modernismo! Culpem o capitalismo! Culpem as drogas! Culpem o pastor! Culpem a si mesmos! Porra... viver se tornou uma prova de resistência, mas... desde quando?  As respostas se escondem no anus de caramujos africanos. Estamos realmente fodidos.

 “Porque jamais se ganha batalha alguma, ele disse. Nenhuma batalha se quer é lutada. O campo revela ao homem apenas sua própria loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão de filósofos e tolos.”

A Loucura... E o horror, o horror...

 (To be continued... ou não)

Por JV.Pinheiro ( e seu clone alienigena, que escolheu a imagem e o título)

05/01/2011

Você causa DOR ao próximo?

Nesse post vamos falar sobre o sofrimento do próximo para a satisfação do seu prazer.

Imagine, você, adotando ou comprando algum ser humano, e cuidando dele por algum tempo, dando casa, comida. Chega um momento então que você percebe que este ser humano está pronto para ser abatido, e cozinhado por você. E você faz exatamente isso. Abate-o e come-o.

Muitos chamariam isso de um ato frio de canibalismo, e diriam que a pessoa que cuidou desse ser humano possui algum distúrbio psicológico. Mas na verdade é isso que fazemos diariamente, não com seres humanos (pelo menos não eu), mas com os animais. Você que possui um cãozinho bonitinho em casa, branquinho, peludinho, pequenino, e então você abate esse seu cão para consumo próprio. "Ah, mas os animais estão aí para nos servir." Digo, não, eles não estão aqui para nos servir, são possuidores de várias funções cerebrais como nós. Pensam. Tentam sobreviver assim como nós. Isso é provado cientificamente, e pra quem faz algum curso na área da saúde, sabe muito bem do que falo.

Vegetarianismo é a resposta para pararmos com essa carnificina que também causa danos ao nosso corpo. Você no natal que se passou sentado em volta de uma mesa com sua família celebrando a paz e a alegria, a reconciliação, mas com um cadáver em cima da mesa servindo de comida à todos. Se você luta pela sustentabilidade, então você deve se tornar vegetariano. Como vamos parar de guerrear se em nossa família esse hábito terrível é permitido? Hipocrisia?

Vegetarianismo é muito mais que um modismo, não é apenas verbo, apenas falar "sou vegetariano", mas é uma postura ética. SEJA VEGETARIANO. Pra quem acha que é apenas uma bobeira, deixo para vocês então 2 vídeos que retratam muito bem o SOFRIMENTO ANIMAL. Não compactuem com isso.






P.S.: Este post é para transmitir uma idéia que ajude na sustentabilidade e na promoção da paz, e com certeza respeitamos quem é adepto do consumo de carne, não endossamos nem criticamos nenhum ato religioso com relação a isso.

Por Neanderthal

03/01/2011

A grande Ressaca Moral do povo

E começa um novo ciclo. 2011 chegou!!!

E se passaram então as festas de fim de ano, tão desejadas, tão esperadas. Natal- "vamos esquecer o que se passou de ruim, não bata a porta na cara de quem lhe fez mal", Dizem. Ano Novo, muitos o usam como um impulso para perdoarem ou pedir perdão para o outro. Mas lembrem-se, só é permitido perdoar e pedir perdão nessa duas datas. Nenhuma outra.

Ora, festas de fim de ano? Não! Ressaca moral do povo. Pessoas pulando ondinha na praia, comendo sete uvas, batendo palmas sete vezes, achando que esses ritos surpersticiosos irão por si só mudar sua condição em relação ao mundo, nos aspectos social, finançeiro, sentimental, e não conseguem encarar que a causa de todos os processos que se seguem em suas efêmeras vidas são eles próprios. Acham que a as festas de fim de ano vão sarar todas as suas dores, e que depois da meia noite do último dia do ano, tudo passará. O que não conseguiram fazer em 365 dias irá se concretizar em 1 minuto? Talvez, a matemática da vida está aí, mas não está a favor de todos, é apenas uma questão de probabilidade.

Para alguns esse texto já é um clichê dito por adeptos do modismo "cult", mas a finalidade dele é atingir você que ainda se encontra maravilhado com as vinhetas de fim de ano da Rede Globo de televisões. Para você que ainda compra ano após ano uma roupinha branca pra trazer sorte. Enfim, para você que não consegue ver que nesse mundo tem muita merda que não vai desaparecer quando todo mundo resolver pular sete ondinhas.

Procurem então durante TODO o ano desse 2011 e os próximos não causar qualquer tipo de dor ou sofrimento aos seus semelhantes. Siga a ética e você se sairá bem. Seja justo. E uma coisa MUITO importante: CHEGA DE FUNDAMENTALISMO! Abra os olhos.

Esse não são os meus votos de natal e de fim de ano, são conselhos para uma vida de autonomia, prudência e racionalidade.

Abraços.